Casulos antigos revelam centenas de abelhas mumificadas da época dos faraós

Aproximadamente 2975 anos atrás, o Faraó Siamun governou o Baixo Egito enquanto a Dinastia Zhou governava a China. Enquanto isso, em Israel, Salomão aguardava sua sucessão ao trono depois de Davi. Na região que hoje conhecemos como Portugal, as tribos aproximavam-se do fim da Idade do Bronze. Notavelmente, na atual localização de Odemira, na costa sudoeste de Portugal, ocorreu um fenómeno incomum e incomum: um grande número de abelhas morreu dentro dos seus casulos, com as suas intrincadas características anatómicas impecavelmente preservadas.

Numa descoberta notável, abelhas mumificadas encerradas nos seus casulos foram desenterradas ao longo da pitoresca costa sudoeste de Portugal. Este extraordinário método de fossilização proporcionou aos cientistas uma oportunidade única de estudar com precisão a vida destes antigos insectos, lançar luz sobre os factores ecológicos que os podem ter afectado e, potencialmente, compreender o impacto das alterações climáticas nas actuais populações de abelhas.

Centenas de abelhas mumificadas dentro dos seus casulos foram encontradas na costa sudoeste de Portugal, num novo sítio paleontológico na costa de Odemira.
Centenas de abelhas mumificadas dentro dos seus casulos foram encontradas na costa sudoeste de Portugal, num novo sítio paleontológico na costa de Odemira. Andrea Baucon / Uso Justo

As abelhas, que foram preservadas com um nível de detalhe excepcional, oferecem aos investigadores informações sobre o seu sexo, espécie e até mesmo o pólen deixado pela mãe. No total, foram descobertos quatro sítios paleontológicos repletos deste achado raro na região de Odemira, em Portugal, com cada sítio apresentando uma alta densidade de fósseis de casulos de abelhas. Mas talvez o aspecto mais fascinante desta descoberta seja a proximidade das abelhas no tempo, já que estes casulos datam de quase 3,000 anos.

Os casulos, agora descobertos, resultaram de um método de fossilização extremamente raro – normalmente o esqueleto desses insetos se decompõe rapidamente devido à sua composição quitinosa, que é um composto orgânico.
Os casulos, agora descobertos, resultaram de um método de fossilização extremamente raro – normalmente o esqueleto desses insetos se decompõe rapidamente devido à sua composição quitinosa, que é um composto orgânico. Andrea Baucon / Uso Justo

As abelhas mumificadas pertencem à espécie Eucera, um dos cerca de 700 tipos de abelhas que ainda hoje habitam Portugal continental. A sua presença levanta a questão: que condições ecológicas levaram ao seu desaparecimento e subsequente preservação? Embora as razões exactas permaneçam obscuras, os investigadores levantaram a hipótese de que uma diminuição da temperatura nocturna ou uma inundação prolongada da área poderiam ter influenciado.

Para explorar ainda mais estes espécimes raros, a comunidade científica recorreu à tomografia microcomputadorizada, uma técnica de imagem de ponta que fornece imagens tridimensionais das abelhas mumificadas alojadas nas profundezas dos seus casulos selados. Esta tecnologia inovadora permite aos investigadores examinar as intrincadas estruturas anatómicas dos insectos e obter informações valiosas sobre as suas vidas passadas.

Imagens de microtomografia computadorizada de raios X de uma abelha Eucera macho (ventral) dentro de um casulo selado. Vista obtida no ICTP ElettramicroCT, instalação de radiação síncrotron Elettra de Trieste, na Itália. A imagem mostra a arquitetura da câmara de criação escavada fechada pela tampa espiral, contendo uma abelha adulta perto de abandonar a célula.
Imagens de microtomografia computadorizada de raios X de uma abelha Eucera macho (ventral) dentro de um casulo selado. Vista obtida no ICTP ElettramicroCT, instalação de radiação síncrotron Elettra de Trieste, na Itália. A imagem mostra a arquitetura da câmara de criação escavada fechada pela tampa espiral, contendo uma abelha adulta perto de abandonar a célula. Federico Bernardini/ICTP.

Embora a descoberta destas abelhas mumificadas seja, sem dúvida, notável por si só, são as suas potenciais implicações que são ainda mais cativantes. À medida que o mundo enfrenta as crescentes ameaças colocadas pelas alterações climáticas, o declínio de polinizadores cruciais como as abelhas tornou-se uma questão de preocupação crescente. Ao compreender como estas abelhas podem ter sido afetadas pelas mudanças ambientais no passado, os cientistas esperam obter informações sobre as atuais populações de abelhas e desenvolver estratégias de resiliência para o futuro.

O Geopark Naturtejo, que abrange a região de Odemira, desempenha um papel central nesta investigação. Integrado na Rede Mundial da UNESCO, o geoparque abrange vários municípios e dedica-se a preservar e explorar as maravilhas geológicas e ecológicas da região. A descoberta das abelhas mumificadas acrescenta outra camada de riqueza à incrível biodiversidade do geoparque e reforça a sua importância na compreensão das intrincadas complexidades do nosso mundo natural.


Os resultados são publicados na revista Artigos em Paleontologia. 27 julho 2023.