Manuscrito 512 — evidência de uma civilização amazônica há muito perdida?

A lenda das minas de ouro e prata de Muribeca remonta ao século XVI, quando o explorador português Diego Álvares era o único sobrevivente de um naufrágio perto da costa do nordeste do Brasil.

A narrativa do Manuscrito 512 serve como um preâmbulo cativante para um mistério intrigante — que tem intrigado historiadores e exploradores por séculos. Acredita-se que este documento enigmático reconte a descoberta de uma cidade antiga e deserta, aninhada no interior do Brasil. A história desta civilização perdida, de acordo com o Manuscrito 512, tem suas raízes no século 18 e desencadeou uma onda de buscas especulativas e debates acadêmicos desde então.

Descoberta do Manuscrito 512

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Primeira página do Manuscrito 512. Crédito da imagem: Wikimedia Commons

A história do Manuscrito 512 começa no ano de 1839, quando Manuel Ferreira Lagos, um exímio naturalista, deparou com este enigmático documento no acervo da Biblioteca Nacional do Brasil. O manuscrito trazia um título longo, traduzido aproximadamente como “Relação histórica de um assentamento oculto, grande e muito antigo, sem habitantes, encontrado no ano de 1753”.

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Biblioteca Nacional do Brasil. Crédito da imagem: Wikimedia Commons

Lagos apresentou o trabalho ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde foi posteriormente publicado em sua revista, com um prefácio ligando-o ao infame caso de Roberio Dias, também conhecido como “Muribeca”. Dias era um notório explorador que foi preso pela coroa portuguesa por ocultar informações sobre valiosas minas na Bahia.

A Mina Perdida de Muribeca

Para quem nunca ouviu falar em Muribeca: desde o século 16, aventureiros vivem obcecados em encontrar minas de ouro e prata no Brasil, principalmente a Mina Perdida de Muribeca. Robério Dias era dono de uma rica mina de prata em algum lugar do interior do Brasil, explorada por índios e que dizem ter milhares de anos.

O pai de Robério Dias era um meio índio chamado Muribeca. Ele havia herdado a mina de seu pai, um português sobrevivente de um naufrágio que vivia com uma simpática tribo de índios e que mais tarde se casou com uma índia. Embora Dias fosse muito rico, ele era um plebeu e, pior ainda, um mestiço – nome dado a alguém cujo sangue é em parte índio.

Uma coisa que Dias sempre quis na vida foi um título, um certificado de nobreza. E assim viajou para Madrid e propôs um acordo ao Rei (de Espanha e Portugal na altura) Dom Pedro II. Ele ofereceu ao rei todas as suas riquezas de suas esplêndidas minas em troca do título de 'Marquês das Minas'.

Dom Pedro II recusou. Em vez disso, o certificado de Dias foi lacrado e ordenado a ser entregue a Dias quando a localização das minas fosse divulgada. Mas, a caminho das minas, Dias convenceu o capitão do navio a abrir as encomendas antes que chegassem à Bahia. Para sua surpresa e consternação, Dias soube que afinal não seria o Marquês das Minas. Ao contrário do que o Rei havia prometido, as ordens seladas declaravam que o Rei havia dispersado uma comissão militar para a área com Dias como 'capitão'. Compreensivelmente, Dias recusou-se a revelar a localização das minas.

Dias ficou preso em um calabouço em Salvador por dois anos. Mas ainda assim, ele se recusou a falar. Eventualmente, ele foi autorizado a comprar sua liberdade e em 1622 morreu. Infelizmente, a localização secreta das minas foi para o túmulo com ele. Muitas expedições foram lançadas para encontrar essas minas e a maioria nunca mais retornou.

Conteúdo do Manuscrito 512

O manuscrito parece ser uma transcrição de um trabalho original perdido e é apresentado como um relatório histórico. Certas seções do documento se deterioraram com o tempo, resultando em trechos de texto ausentes. No entanto, as porções sobreviventes contam uma história fascinante.

A narrativa detalha a jornada de um coronel português (nome desconhecido) e sua equipe, que foram atraídos para uma imponente cordilheira que brilhava ao longe. Ao chegar ao pico, eles descobriram um assentamento que inicialmente confundiram com uma cidade costeira. Em uma inspeção mais próxima, eles perceberam que a cidade estava em ruínas e abandonada.

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Arco romano triplo em Timgad, Argélia. O arco na entrada da cidade perdida descrito no manuscrito é semelhante em aparência a este. Crédito da imagem: Wikimedia Commons

A entrada da cidade foi adornada com um arco triplo, reminiscente dos arcos triunfais romanos, com inscrições em linguagem irreconhecível. A praça da cidade abrigava um pedestal preto com a estátua de um homem apontando para o norte, um grande edifício adornado com vários relevos e incrustações e “pináculos romanos” ou obeliscos em cada canto. Eles também descobriram uma mansão rural fora da cidade, que continha casas separadas em torno de uma grande sala central, possivelmente um átrio.

Procure a cidade perdida

A Cidade Perdida de Muribeca poderia ser uma lenda ou uma civilização antiga que realmente existiu por milhares de anos, então neste contexto a busca por minas desconhecidas e cidades perdidas como Eldorado, Paititi, Z, e muitas outras, ainda se estenderia por mais de dois séculos.
A Cidade Perdida de Muribeca poderia ser uma lenda ou uma civilização antiga que realmente existiu por milhares de anos, então neste contexto a busca por minas desconhecidas e cidades perdidas como a Eldorado, Paititi, Z, e muitos outros, ainda se estenderia por mais de dois séculos. Crédito da imagem: Rede de tesouros

Entre 1841 e 1846, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro patrocinou inúmeras expedições para localizar a cidade perdida. Pe. Benigno José de Carvalho conduziu essas buscas pela Chapada Diamantina, uma região conhecida por suas formações rochosas únicas. Apesar da diligência relatada por Carvalho, as expedições não renderam nenhuma descoberta substancial, levando a uma atmosfera de desilusão e ceticismo.

Teorias e especulações

Várias teorias e especulações foram propostas para explicar as origens e a existência da cidade perdida descrita no Manuscrito 512. Alguns estudiosos acreditam que o relato pode ser autêntico, citando evidências de grandes ruínas e contos de escravos fugitivos e nativos que viviam na área.

Por outro lado, outros historiadores descartaram o relato como mera ficção, atribuindo a descrição da cidade às formações rochosas incomuns da Chapada Diamantina. Independentemente das teorias conflitantes, o Manuscrito 512 continua a ser um assunto de fascínio e debate nos círculos históricos.

Manuscrito 512 e a noção de uma civilização oculta

A descoberta do Manuscrito 512 e sua intrigante narrativa alimentaram a ideia de uma civilização avançada e oculta no Brasil, um país recém-independente que buscava construir uma forte identidade nacional. O relato do manuscrito fortaleceu a teoria de que uma antiga civilização greco-romana poderia ter existido no Brasil em algum tempo remoto.

Impacto do Manuscrito 512 em explorações futuras

O mistério da cidade perdida descrito no Manuscrito 512 inspirou inúmeras expedições e missões para desenterrar esta civilização oculta, incluindo lendas O explorador britânico Percy Fawcett, que supostamente descobriu a “Cidade Perdida de Z”. Infelizmente, essas buscas não tiveram sucesso e a cidade descrita no manuscrito permanece desconhecida até hoje.

Conclusão

O enigma do Manuscrito 512 continua a cativar as mentes de historiadores, exploradores e entusiastas. Sua narrativa, embora envolta em mistério e especulação, oferece um vislumbre tentador da possibilidade de uma civilização há muito perdida não descoberta no coração do Brasil. Embora a verdade sobre a cidade descrita no Manuscrito 512 permaneça indefinida, a busca por essa civilização oculta continua.


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